A palestra de Ancelmo Gois
Uma delícia foi a palestra do Ancelmo Gois. Bem-humorado e inteligente. Alguns pontos que acredito serem importantes para a formação de todos nós:
1. As essências do jornalismo continuam as mesmas, apesar do furação web: novidade e emoção. Somos os profissionais capazes de contar o que na sociedade surge de novo e de renovado. Contamos o novo com emoção. Pelo menos deveríamos.
2. Não devemos proteger os poderosos.
3. A Revista Veja (já falava isto na sala) é honesta. Sempre foi anti-lula e vai continuar sendo. O leitor da revista sabe disso e lê porque compartilha pelo menos em parte essa opinião (conservadora, é claro) da revista. Melhor revista que se posiciona como oposição, do que revista que posa de oposição e é chapa branca (governista).
4. As dores de coluna. É trabalhoso, no caso de Gois, porque sua coluna é a segunda página mais lida no Globo. E ela é feita com "notas de todas as editorias". Tem economia, política, cultura, fofoca, cidade, fotojornalismo. Ou seja, é o retrato do que é o jornal. Ela é múltipla.
5. A web desestabiliza o impresso. Leitor envelhece e é escasso, contudo, é o que busca mais opinião e credibilidade. "A net vive um momento de acomodação. Não há um modelo a ser seguido".
6. Os blogs e o jornalismo digital estão limitando o trabalho de certas editorias. Gois deu exemplo da de esporte. A notícia de hj (flamengo vence e se livra do rebaixamento) já doi dada ontem às 18h. E muitos não vão querer ler de novo. No caso do jornalismo de notas, Gois citou seu exemplo: às vezes fica horas no telefone para conseguir uma nota. Quando consegue, a nota já está no blog do noblat.
7. Um jornalista para muitos meios. Uma notícia pode ser dada para a tv, rádio, impresso e web. São as novas tecnologias gerando o desemprego nas redações.
8. Em compensação, produz empregos em outras áreas, principalmente, nas instituições que seria fontes. Toda instituição agora quer ter seu portal com suas informações. É o ciclo da informação, como disse. Ou melhor, a sociedade da informação.
9. "Eu não acredito que o jornal diário vai acabar. .. Por quê? Porque eu não quero que acabe".
10. O leitor participa o tempo todo, após o advento da net. Só que se tornou mais intolerante tb.
11. Notícia boa para jornalista é notícia ruim para alguém.
12. O exercício do espelho: "quando fui jantar no alvorada com o Fernando Henrique, fui ao banheiro, me olhei no espelho e disse: "ancelmo, não é vc que vai entrevistar o presidente. São os quatro milhões de leitores de Veja". Nunca esquecer que jornalista tem de se posicionar sempre como fosse seus leitores. Jornalismo é serviço público.
13. Ancelmada: gíria na Veja que significa paparicação. É a estratégia de Gois para obter furos e informações com a fonte.
14. Quem produz opinião é o jornalismo impresso. É o que tem mais credibilidade.
15. A edição de domingo é uma grande revista. Tem mais leitores e o pessoal está em casa para ler notícias. O tema saúde é a bola da vez. Isto porque os leitores do impresso são velhos e tem problemas de saúde, como colesterol. "Me lembro que quando a Veja vinha de vendas baixas, fazíamos uma capa sobre colesterol e as vendas subiam".
16. A mídia impressa é rica e segmentada. "Quando há 46 anos comecei a trabalhar com jornalismo, o jornal era vendido em uma pequena mesa. Era uma banca. Hoje as bancas são enormes. Há publicação para tudo: política, fofoca, música...".
17. "A web democratizou a comunicação, pois permite que mais pessoas tenham acesso às informações. Não encontram notícia só em jornais, televisão, mas pela internet e pelo celular".
Ancelmo Gois em Vitória
A aula da segunda será no auditório da Rede Gazeta. O jornalista Ancelmo Gois, do Globo, vai dar palestra em Vix: "De Gutemberg ao Blog". A entrada é franca. O evento ocorre às 9h.
Tarefa para avaliação: fazer um texto noticioso. Máximo de 2000 caracteres. Entrega obrigatória na quinta.
Pelo amor de Deus, espalhe para todos. Como vocês, vou estar lá.
Aula Dia 14
A aula na próxima segunda vai ocorrer normalmente. Inclusive, será o dia da entrega das matérias com a primeira nota. Não esqueçam de ler o texto que deixei na xerox sobre reportagem.
Para refletir
Os livros estão vendendo mais que CD no mercado online, segundo notícia do IDG.. É algo pararefletir, já que há uma defesa da diminuição da mídia impressa como forma corrente de obtenção de informação. Eu mesmo sou partidário de que a leitura online é uma prática mais recorrente do que a impressa. Pelo menos para estudar e se entreter.
Sobre a entrevista do Lula
1. O presidente foi muito incisivo nas realizações do governo, apostando em mostrar através de números a comparação do seu governo com o de seus antecessores. A estratégia: mostrar que a crise política visa diminuir a sua potência eleitoral.
2. Optou em não declarar que não está na corrida eleitoral, Lula criticou a oposição como presidente e não como candidato. Cobrou eficácia da oposição em realizações (aprovação de medidas, leis etc) criando uma relação de eu produzo x vocês ficam parados.
3. Apoio ao eterno companheiro Dirceu. Foi o ponto fraco de Lula. Não que ela não tenha que apoiar o "Zé", mas durante a defesa o presidente se colocou como o antigo Lula: muito nervoso e agressivo, como querendo ganhar no grito. O lado bom disto: ele não vira às costas para companheiros históricos. O lado ruim: a ambigüidade de poiar indiretamente o jogo da corrupção. Portanto, foi uma mensagem para Dirceu: não me abandone na composição das alianças de 2006. E uma mensagem para o povo: Dirceu vai ser cassado.
4. Momentos de enorme satisfação como telespectador: quando falou que o PT é muito mais que os Delúbios da vida. "Eu sei o que foi fundar o PT. Eu saía de SP para o Acre para fazer discurso para duas pessoas. Ás vezes, tinha que ir para o interior de SP e não tinha gasolina no carro. Então, eu me sinto profundamente irritado com esses companheiros que jogaram o PT numa lama".
5. Incisivo: não houve mensalão.
6. Lula é um democrata. Contou que a sua relação com a imprensa (como a de qq político) é de amor e ódio. E ressaltou o trabalho dos jornalistas, apesar das mágoas que tem com os donos de jornais e os diretores de redação. "Eu me acostumei viver sem a imprensa". Boa fala anti-espetáculo.
7. Boas intervenções do Augusto Nunes, Markun e do Heródoto: jornalista é um sujeito que pergunta. Doa a quem doer.
O presidente deu as suas declarações. E PT saudações.
Sobre o futuro do impresso
"Oi, voltei", como diria José Carlos Araújo, o Garotinho, da Rádio O Globo.
Voltei para levantar algumas questões sobre o futuro do jornal impresso. Estão rolando alguns debates no SlashDot e a UOl traduziu um artigo interessante de um professor da Universidade da Califórnia, alguns pontos que merecem destaque:
1. A tendência dos jornais standard é caminhar para o formato tablóide. Há jornais que no final de semana se tornam tablóide. Questão de custo, pois as despesas crescem numa velocidade maior do que as receitas (verbas publicitárias).
2. Os jornais não estão satisfazendo novos leitores (que vivem no mundo da mídia on demand). Pessoas com menos de 30-35 anos preferem notícias online.
3. Está desaparecendo o leitor de 7 dias por semana.
4. Há uma proposta de experimentar uma linguagem impressa a partir do jornalismo digital. Ou seja, pensar em produzir noticiário a partir da seguintes questão: quais links poderiam estar associado a esta notícia?
5. Os jornais precisam parar de definir seu negócio como tinta sobre árvores mortas". Frase boa Eric Deggans. MOstra que os jornais precisam multiplicar suas formas de distribuir suas notícias. Não só ficar preso ao impresso. Uma saída seria fornecer on demand notícias online.
É pagar pra ver. Aliás, eu não pago!!!